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segunda-feira, 26 de maio de 2014

Salar de Uyuni - Onde o céu se encontra com a terra



Sem dúvidas, o lugar mais lindo da Bolívia. Considerado por muitos uma das paisagens mais surreais do planeta, o Salar de Uyuni, maior deserto de sal do mundo, está situado na Bolívia entre os departamentos de Potosí e Uyuni, a 3.650m de altitude, e compreende uma área de aproximadamente 10582 km² (maior que o lago Titicaca, na fronteira Bolívia-Peru). Durante a época das chuvas que vai de dezembro até março, uma camada de água acumula-se sobre o salar formando um espelho d´água, criando uma ilusão de ótica onde o céu parece se encontrar com a terra. Um dos mais belos espetáculos da natureza.



E como tudo que é belo é também mais difícil de ser alcançado, o deserto de sal não poderia ser diferente. Não é tão simples chegar a Uyuni. A escolha da melhor rota e meios de transporte dependem muito de pessoa para pessoa, necessitando de um bom planejamento prévio, de acordo com o gosto e perfil de cada viajante, além de tempo e dinheiro disponíveis. Abaixo, seguem alguns "atalhos" e dicas de ouro para quem está começando a montar o roteiro.


Quando ir ao Salar

A única época menos indicada para ir ao Salar é no período das chuvas que vai de novembro a março. Nessa época, o Salar fica alagado tornando-se mais perigoso de ser percorrido, porém muito mais belo. Na verdade, o verdadeiro cenário surreal tão comentado do Salar de Uyuni é observado no período das chuvas, quando forma-se uma camada de água sobre o mesmo, dando a impressão que céu e terra são uma coisa só. Entre abril e outubro, em regra, o salar fica seco e a visão é de uma imensidão branca, muito bela também. Por outro lado, também conheço gente que já foi em julho e pegou ele alagado por conta da neve derretida. Vai muito da sorte também. É lindo dos dois jeitos, mas alagado não existe nada igual. O grande problema são os inúmeros relatos de pessoas que foram ao salar na época das chuvas, estradas fechadas, cancelamento de tours, carro atolado no meio do nada, horas e dias sem comida e sem ter como chamar por socorro (esqueça qualquer sinal de telefone/internet durante todo o tempo em que estiver na expedição). 

Minha opinião é, se você é corajoso, e tem tempo, pode ir na época das chuvas. Não vá no meio dela (dezembro e janeiro). Vá em novembro ou final de fevereiro, hospede-se em Uyuni e vá na agência que escolher perguntar se o salar está alagado, como está o clima, se haverá mudança de rotas ou cancelamento do passeio. Fique de olho na previsão do tempo e vá assim que a chuva der uma trégua. Eu fui em meados de abril, ou seja, bem no final da época das chuvas, e já estava seco. Mas no início tinha uma pequena faixa alagada. Até deu para tirar algumas fotos bem parecidas com a paisagem dele alagado (primeira foto do post).


Logística de transportes na Bolívia - Como chegar ao Salar

Aqui é a parte mais chata e complicada de planejar uma viagem a Bolívia. Meios de transporte no país são realmente um problema, de uma maneira geral. Atrasos são constantes e as estradas um tanto quanto perigosas. Chegar ao Salar é demorado e complicado, independente de onde você vai ou como, portanto, não agende nada com horários muito próximos. A grande maioria dos viajantes vão ao Salar partindo de São Pedro de Atacama, no Chile, e terminando em Uyuni, na Bolívia. O caminho inverso também pode ser feito. Muitas agências dão a opção na hora de fechar o tour, que pode voltar a Uyuni ou terminar em São Pedro do Atacama. Para quem começará o tour em Uyuni, como eu fiz, os dois principais pontos de partida para a cidade são La Paz e Santa Cruz de la Sierra. Em ambos os trechos as estradas são terríveis, prepare-se para longas horas de viagem, muitas vezes em condições nada boas. Há quem prefira ir de Santa Cruz, mas eu achei a rota de La Paz mais rápida e econômica, e vou explicar porque. Quem parte de Santa Cruz precisa pegar um ônibus até Sucre. De Sucre, deve pegar um ônibus até Potosí e depois outro até Uyuni. De ônibus, essa brincadeira toda leva de 17 a 20 horas e viagem, se você não pernoitar em nenhuma dessas cidades, claro. Existem vôos de Santa Cruz a Sucre, o que reduziria umas 8 ou 9 horas de viagem. Não tenho certeza absoluta, mas acho que não há vôos/aeroportos em Potosí e Uyuni.  De La Paz, há ônibus noturnos diretos para Uyuni que até são confortáveis e servem jantar e café da manhã, a viagem leva de 10 a 12 horas. 

Eu escolhi ir partindo de La Paz porque achei mais rápido, mais viável ao meu roteiro e dias disponíveis, e mais econômico. Fui à Uyuni de ônibus, saindo de La Paz, percorrendo uma estrada péssima durante 10 horas e meia de viagem. A estrada desse trecho é muito ruim mesmo, milhares de pedras e buracos fazendo com que o ônibus não parasse de chacoalhar nem por um segundo. E também não há postos de paradas, nada com o mínimo de estrutura. Posto isso, o primeiro ponto importante para quem vai ao Salar partindo de La Paz é a escolha da agência de ônibus que o levará até Uyuni. Quando comecei a montar meu roteiro, a única empresa que eu havia escutado falarem bem era a Todoturismo. Fui com ela e não me arrependo nenhum pouco, serviço profissional. Por outro lado, encontrei vários mochileiros que haviam ido com outras empresas diversas, todos reclamavam sobre ônibus fedorento, viagem que durou mais de 15 horas, frio absurdo e por aí vai. Desta forma, recomendo de fato a agência Todoturismo que é ótima e especializada neste percurso. A viagem levou 10 horas e meia, no ônibus havia jantar, café da manhã, água, chá, travesseiro e manta. O ônibus é bem quente e o serviço é ótimo. Desta forma, concluí que de fato vale muito a pena pagar 250 bs e ir pela Todoturismo. A agência fica em frente ao terminal rodoviário de La Paz. É meio chatinho de achar, mas peça informação e não desista. É um prédio amarelo de uns 4 andares. Embaixo tem uma porta de vidro e um interfone. A loja fica no 2º andar. E a passagem tem que ser comprada com antecedência. O ônibus sai às 21hrs. Comprei minha passagem ao meio dia do mesmo dia que viajaria, e peguei a última poltrona vaga!


A escolha da Agência para a expedição do Salar

A escolha da agência é muito importante, principalmente para quem vai ao salar na época das chuvas (dezembro a março). Entretanto, é essencial fixar alguns pontos. Independente da agência que escolher ou se vai por conta própria, esqueça qualquer tipo de conforto durante o tempo em que estiver fazendo a expedição. A coisa é nível roots total, hard mesmo, rs.  Mas com certeza vale muito a pena. Existem opções de contratar guia particular e ficar em hotel diferenciado, mas um pacote deste custa mais de U$1.000 por pessoa (sim, dólares). Ou seja, se você não tem mais de R$ 2.300,00 para gastar somente em um tour, você vai do modo mochileiro, como a grande maioria das pessoas fazem. Provavelmente você passará uma noite sem tomar banho também. E frio. MUITO frio. Na segunda noite de salar, a temperatura girava em torno de -10 C a -15C, e claro, não há calefação nos alojamentos, nem fogueira ou lareira. Lembrando que isso tudo, independe da agência que você vai escolher. Os programas entre elas são praticamente idênticos, e os alojamentos no meio do deserto também. Abstraia, entre no clima, afinal, você não vai morrer por isso e as paisagens e cenários que seus olhos verão valem a pena cada perrengue vivido.

Somente veículos 4x4 podem adentrar ao salar. Além disso, existem alguns pontos no deserto de sal onde os veículos não podem circular, pois certos lugares são mais suscetíveis de atolamento das rodas dos carros. Se estiver alagado então, o cuidado deve ser redobrado. O motorista DEVE ser experiente no tour e deve conhecer bem o salar. Daí a importância em pesquisar muito antes de fechar o passeio com a primeira que aparecer. E na minha opinião, esqueça a idéia de ir por conta própria, pois as chances de você se perder ou ficar atolado no meio do deserto são bem altas. Depois de fuçar e virar de cabeça pra baixo todos os fóruns que encontrei no Google acerca do assunto, escolhi três nomes de agências bem faladas e fui decidida a fechar o passeio com a primeira que eu encontrasse: Cordillera, Colque Tours e Avi Travels.

Cheguei em Uyuni e a primeira que encontrei foi a Colque. O preço inicial era 850bs, e com a pechincha nossa de cada dia saiu por 750bs, o tour de 3 dias, incluindo café da manhã, almoço, janta e alojamento em quarto compartilhado. Tudo na hora, sem reserva antecipada. Cheguei na Colque tours as 8 da manhã e fechei o tour que sairia as 10:30 da manhã. Além disso, aluguei na própria Colque o saco de dormir pelo valor de 50bs. Outro detalhe MUITO importante! Não vá sem saco de dormir para a expedição do salar. O frio a noite é absurdo e o saco realmente salva a nossa vida, mesmo que ele não seja resistente a -0 C. Você vai precisar.

Depois de fechar o tour, fui em uma lojinha comprar água e alguns petiscos para levar para o tour. Isso é muito importante, principalmente para os comilões de plantão como eu. As refeições servidas durante o tour são as básicas: café da manhã, almoço e janta. É sempre bom ter uma bolacha ou salgadinho para beliscar no intervalo. Água leve apenas para o primeiro dia, pois nos alojamentos eles vendem e o preço não é tão alto. Aliás, segue a listinha de itens indispensáveis para o Salar:
- Água;
- Óculos de Sol;
- Protetor Solar;
- Hidratante (mesmo se você é homem ou mulher que odeia cremes como eu, vai agradecer por encontrar um creme em sua bolsa);
- Colírio e Rinosoro, para quem sofre de alergia ou problemas respiratórios;
- Manteiga de cacau;
- Papel higiênico;
- Casaco para frio de neve;
- Meias para frio de neve, luvas e gorros;
- Segunda pele calça e blusa (térmicos);
- Saco de dormir (preferencialmente para frio negativo, se não tiver o normal já ajuda bastante);
- Lanterna.
- Kit remédios básico

Não esqueça nenhum desses itens, isso é muito sério. Sem quaisquer um deles você vai sofrer mais e passar perrengue, atrapalhando a diversão. Quando o carro vai subindo rumo às Lagunas Altiplânicas você sente bastante os efeitos da altitude, que chega a quase 5.000m. Respiração e ar viram artigos de luxo. A dica aqui é comprar folhas de coca antes, em La Paz ou onde encontrar. Mascar folhas de coca ajuda bastante a diminuir os sintomas do mal de altitude. Eu, sedentária e portadora de bronquite, rinite e cinusite, sofri legal, rs. Por isso, um pouco de preparo físico e ausência de patologias respiratórias muito ajudam nessa viagem.

Pois bem, meu grupo foi formado por 5 pessoas mais o motorista. Alvaro e Luana, brasileiros de São Paulo, Fabio, do Rio, Diego, da Costa Rica, eu e o motorista Roger, boliviano, claro. Todos uns fofos, simpáticos e solícitos. A interação entre nós não podia ter sido melhor. No primeiro dia do tour, visitamos o Cemitério de Trens, Salar de Uyuni e Isla Incahuasi, nesta ordem. Era dia 21 de abril e o salar estava seco. Porém, na entrada do salar, encontrei uma faixa de água extensa e arrisquei algumas fotos.

(Cemitério de Trens)

 (Cemitério de Trens)

(Balancinho perdido no meio dos trens)


(Encontro do céu com a terra)

 (Brincando com o tempero da salada)

 (Ahhh, rs)

 (Selfie de Sal)

(Fotos clichês do Salar)

(Hora do almoço)

Para subir na Isla Incahuasi você paga uma taxa que não me lembro o valor certo, mas é algo entre 30 e 60 bs. A vista lá de cima é bonita, prepare o fôlego na subidinha, rs.

(Isla Incahuasi)

A noite, nos recolhemos ao alojamento de sal, menos frio que o da segunda noite, e aconchegante. Uma graça. Tudo muito simples, mas tinha chuveiro quente e banheiro limpo. No jantar foi servida uma sopa de legumes como entrada, muito gostosa, e o prato principal tinha carne, linguiça, ovos, tomate, e arroz, salvo engano. As bebidas são a parte e lá têm cerveja, refrigerante e vinho à venda.

 (Mesas de jantar do hostel de sal)

A noite, nos agasalhamos bem e resolvemos encarar o frio e dar uma volta do lado de fora do alojamento, para ver as estrelas. Não há qualquer energia elétrica do lado de fora, somente a luz das estrelas. Fiquei de queixo caído, nunca tinha visto a via láctea inteirinha tão bonita, com aquela chuva de constelações. Para completar, havia um fotógrafo no meu grupo com uma câmera profissional, que me abençoou com a foto abaixo. Casal Alvaro e Luana, muito obrigada mais uma vez pela foto única!

(Via Láctea)

No segundo dia, visitamos as Lagunas Altiplânicas. Pra mim foi o pior dia em termos de saúde, porque sofri demais com a altitude. Além, de vontade de ir ao banheiro, banheiro este que não existe no deserto, salvo em uma ou outra parada, TOTALMENTE precários, impossíveis de respirar dentro, rs. Porém, a paisagem é magnífica e realmente de tirar o fôlego. Vulcões e montanhas misturadas em um cenário desértico, vegetação e fauna exóticas, além das lagunas coloridas e abarrotadas de flamingos.

(Vulcão de fundo)

(Laguna Hedionda)

(Tribo de flamingos na laguna hedionda)

(Vida difícil)

(Da série: Meu queixo caiu, quero levar todos pra minha casa)

(Ventania)

(Laguna Onda)

(Laguna Colorada)

No final do 2º dia, entramos da Reserva Nacional de Fauna Andina Eduardo Avaroa, e pagamos o valor de 150bs. Guarde bem o ingresso que vão te entregar, pois acontece de fiscais bolivianos pararem os carros durante o passeio e pedirem o ingresso para comprovar que todos ali pagaram para entrar na reserva. Se você perder o bilhete eles te fazem pagar denovo.

(Reserva Nacional Eduardo Avaroa)

Depois, fomos para o alojamento, eu sem imaginar que iria passar a noite mais fria da minha vida. Nem cogitei a idéia de sair para ver estrelas de novo, sem chance. Acordamos às 4 da manhã e partimos as 5, rumo aos Geiseres Sol de la Manhana. Chegamos nos Geiseres antes do sol nascer, é lindo e diferente, mas o frio aperta e aperta com gosto. O vidro do carro coberto de gelo, e eu só consegui sair do carro para tirar duas fotos e nada mais. Voltei para o carro para tentar me esquentar.

(Gêiseres Sol de la Manhana)

Depois seguimos para as termas, onde a água chega a 80 graus e é permitido banhar-se. Eu não encarei nem a pau. O frio do lado de fora não me deixava tirar nem um pedaço de roupa dos 5 casacos que me empacotavam, rs.

 (Termas)

(Nascer do Sol nas Termas)

Por fim, por volta das 8 da manhã, chegamos na Laguna Verde, que não estava verde. Aqui foi uma parte um pouco decepcionante para mim. O guia estava bem antecipado ao horário previsto, eram 8 da manhã e a coloração verde da laguna só poderia ser vista por volta das 11. Nos antecipamos porque ninguém conseguiu ficar muito tempo nos Gêiseres nem nas termas, por causa do frio. Segundo o nosso guia, o motivo de termos iniciado o tour tão cedo era porque os gêiseres eram mais bonitos e intensos antes do nascer do sol. Portanto, se você quer ver a laguna verde realmente verde, enrole bastante nos Gêiseres e principalmente nas Termas, para chegar mais tarde na Laguna.

(Laguna Verde que não estava verde...)

Saindo da Laguna Verde, conte no máximo 20 minutos até a fronteira com o Chile. Quem optou seguir para San Pedro de Atacama fica na fronteira, onde um ônibus da Colque Tours leva o pessoal até o vilarejo, e quem optou voltar a Uyuni retorna com o motorista em uma viagem de aproximadamente 8 horas. Inicialmente eu havia optado por voltar a Uyuni para retornar a La Paz e fazer outros passeios. Mas já estava a 3 noites sem dormir, uma no ônibus que chacoalhava para Uyuni, e as 2 no deserto por conta do frio. Não tinha condição alguma de viajar para Uyuni por mais 8 horas, parecia um zumbi, precisava de banho e cama. Então, o nosso motorista/guia deixou eu escolher na hora, quando optei por seguir para San Pedro e depois pensar em um plano de como voltar a La Paz.

Conclusão: passeio lindo, porém muito difícil também. Mas vale a pena uma vez na vida. As paisagens são magníficas e as fotos que você levará compensarão o sofrimento, rs. Para minimizar isso tudo, não se esqueça de levar os itens indispensáveis que mencionei acima e casacos reforçados. Vá de espírito preparado, pesquise bem antes e na hora certa abstraia e aproveite a trip. É sensacional!

Espero ter ajudado,

Abraço =)




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